A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sempre foi considerada uma ameça existencial para a Rússia, que chegou a utilizar desse argumento para invadia a Ucrânia em fevereiro de 2022, já que o antigo “país irmão” ode estar próximo de se juntar à Aliança. Sua recente expansão – em abril a Finlândia passou a fazer parte da Otan e a Suécia se encaminha para seguir o mesmo caminho – virou um problema mais vívido para os russos, que alegam estarem vivendo uma ameaça existencial. Nesta semana, durante a reunião da Otan, que está sendo realizada na Lituânia e conta a presença do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, a aliança informou que irá aceitar a Ucrânia na Otan, mas somente quando o país cumprir as condições. Segundo Jens Stoltenberg, secretário-geral, o convite será emitido quando os aliados concordarem e as condições estejam necessárias para o ingresso de Kiev estejam cumpridas.
A Rússia vê esses anúncios – o G7 informou que vai fornecer apoio militar de longo prazo para Ucrânia – como uma ameaça ao seu país. Este plano de compromissos vai minar a segurança da Rússia e tornará a Europa “muito mais perigosa por anos e anos”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitryi Peskov. Nesta quarta-feira, 12, em coincidência com a reunião de cúpula, que acontece desde terça-feira, 11, as tropas russas executaram pela segunda noite consecutiva um ataque com drones contra Kiev e sua região, anunciou o comandante da administração militar da capital ucraniana nesta quarta-feira. “Todos os drones explosivos Shahed, de fabricação iraniana, foram detectados e destruídos”, afirmou Sergiy Popko no Telegram. “Não há informações sobre vítimas e danos no momento”.
Serguei Lavrov, ministro russo das Relações Exteriores, declarou que a guerra na Ucrânia, que se encaminha para o segundo ano, não terminará até que o Ocidente pare de tentar derrotar Moscou. O conflito “continuará até que o Ocidente abandone seus planos de manter o domínio e sua obsessão de infligir uma derrota estratégica à Rússia por meio de sua marionete, Kiev”, disse Lavrov na entrevista ao jornal Kompas. “Não houve sinal de mudança na postura deles e estamos vendo como os Estados Unidos e seus cúmplices continuam fornecendo armas à Ucrânia e pressionando (o presidente Volodymyr Zelensky) a continuar lutando”, acrescentou. Lavrov participará na sexta-feira em uma reunião de cúpula de ministros das Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste da Ásia (ASEAN), que também terá a presença do secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Otan: uma ameça para Rússia
A Otan, que desde o fim da União Soviética incorporou 15 países europeus, é considerada uma ameaça existencial para a Rússia. Desde 2014, a ampliação da Otan está entre as “principais ameaças externas” da doutrina militar russa, documento que determina a política de defesa do país. “A implantação de infraestruturas militares da Otan perto das fronteiras russas é percebida em Moscou como uma ameaça real à segurança do país”, disse o cientista político Georgi Bovt. O ponto de inflexão na relação da Rússia com a Otan foi a intervenção da Aliança no conflito iugoslavo em 1999, que levou o Kremlin a pensar que, “se no passado bombardearam Belgrado, podem bombardear Smolensk no futuro”, afirma o especialista. As relações começaram de forma distendida, quando, após o fim da Guerra Fria, a Rússia aderiu em 1994 à chamada Parceria para a Paz, programa da Otan que oferece colaboração militar aos países do antigo bloco do Leste Europeu.
Quase três décadas depois, a Aliança tem contingentes militares em oito países do Leste Europeu, quatro deles na fronteira com a Rússia. Moscou considera essa expansão uma traição à promessa que lhe foi feita pelos países ocidentais após a queda da URSS de não expandir a Aliança – algo que o presidente russo, Vladimir Putin, vem repetindo há anos. Nesse sentido, Moscou monitora de perto a possível adesão da Ucrânia à Otan. Mesmo que o encontro na Lituânia não leve a uma integração acelerada, “será dado um novo passo rumo à adesão”, afirma Georgi Bovt. Segundo o especialista, a Rússia “não tem nenhum motivo para pôr fim às suas operações militares” e, no sentido contrário, “enquanto a guerra continuar, a Ucrânia não será aceita na Otan”.
Finlândia e Suécia
A invasão da Rússia à Ucrânia fez com que Finlândia e Suécia, dois países nórdicos que há anos mantinham uma política de neutralidade, abrissem mão e demonstrasse interesse em ingressar na Aliança para se proteger, já que estavam se sentido ‘vulneráveis’ e que Putin poderia tentar invadir seus países também. A Finlândia aderiu à Otan em abril, praticamente dobrando a fronteira comum da Rússia com a Aliança, agora de mais de 2.500 quilômetros. Já a Suécia deve aderir à Aliança logo após o sinal verde de Hungria e Turquia, próxima da Rússia, uma decisão que poderá complicar as relações de Ancara com Moscou. O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, destacou hoje que a Turquia está “mais orientada para o Ocidente do que para a Rússia” e pediu às autoridades turcas que tirem “os óculos cor de rosa” porque, segundo ele, “ninguém quer a Turquia na Europa”.
A adesão da Ucrânia à OTAN é a principal preocupação em Moscou, que viu com bons olhos o fato de sua vizinha não ter recebido um convite oficial, nem um calendário preciso para aderir à Aliança, durante a cúpula da Lituânia. A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse, ironicamente, que a cúpula da OTAN na Lituânia é um “espetáculo pitoresco”, onde serão ouvidos “solos de violoncelo para apoiar a Ucrânia”, mas sem oferecer a Kiev qualquer perspectiva real de integração.
*Com informações da AFP