A taxa de juros brasileira poderia ser praticamente metade do que é hoje, segundo o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Para o economista, a questão de crédito no país, assim como subsídios oferecidos a determinados setores, fazem com que o nível da Selic precise ser superior. “O Brasil é um país de alto risco fiscal, com uma rigidez orçamentária grave. O governo federal dispõe de apenas cerca 9% do orçamento para exercitar políticas públicas”, explica em entrevista ao site da Jovem Pan. Ele complementa que, em outros países, esse percentual costuma ser de 50% do orçamento. O baixo nível de recursos disponíveis nos cofres públicos para uso do governo cria um risco de sustentabilidade. Maílson indica que, em algum momento, a União pode não ter como funcionar a economia. “A taxa de juros tem que refletir esse risco. Tudo isso considerado, somado ao fato que temos um Banco Central com qualidade de gestão semelhante aos melhores dos países ricos, não dá para imaginar que a diretoria do Banco Central está ali para conspirar contra a economia brasileira e aumentar os juros para dar lucro para os bancos. O melhor para banco é juros baixo. Os maiores investidores do governo não são bancos, são tomadores e compradores de títulos públicos, fundos de pensão e contribuição para aposentadoria”, afirma.
O economista analisa que existe uma desinformação “lamentável” sobre como funciona o Banco Central e o seu papel na economia. Ele pontua que a autoridade monetária pode cometer erros, como a decisão recentemente do BC norte-americano de baixar os juros, mas que a gestão brasileira consegue superior à de muitos países desenvolvidos. “As pessoas não consideram que, em alguns casos, nós somos melhores do que eles. Temos uma regulação melhor. Estamos há mais de 30 anos sem uma quebra generalizada de bancos. A qualidade da regulação aqui é ótima. Tanto é assim, que os últimos dois presidentes do BC foram eleitos os banqueiros centrais do mundo. Isso atesta a qualidade. O que não pode é haver o que acontece por aqui, os ataques ao Banco Central. Ministro dizendo, com todo o respeito, bobagens sobre a taxa de juros. Ninguém está feliz com a Selic a 13,75%, mas pior é a inflação”, pondera. Maílson da Nóbrega considera que estão sendo criadas as condições para o início de um ciclo de política monetária caracterizado por reduções da taxa de juros. Ele estima que provavelmente isso comece já na reunião de agosto. “Nossa aposta é de que vai ser uma redução de 0,25 p.p. porque ainda tem muitos riscos. Não creio que seja o 0,5 p.p. que estejam citando. Mas é um sinal importante de que começou a redução da taxa de juros. Em dezembro, teremos uma Selic de 12% ou 12,5% em dezembro e entre 9% e 10% no próximo ano”, prevê.
Ele ainda pontua que as críticas do governo ao Banco Central geraram uma repercussão negativa no mercado financeiro, fazendo a taxa de juros futuros subir. “Quando no começo do governo, o presidente Lula e o ministro da Fazenda começaram a fazer ataques ao BC, exigindo a redução taxa de juros, gerou uma percepção de que eles estavam trabalhando para eliminar a independência do Banco Central, para intervir e determinar uma queda da taxa juros. A taxa de juros futuro subiu, as expectativas de inflação pioraram e a Selic, que podia ter caído em março ou abril, vai cair só em agosto. A maneira como o Lula fala do Banco Central de forma desairosa, chamando este cidadão, tudo isso gerou muita preocupação. Mas, dada a firmeza do Banco Central, foi se percebendo que isso é um discurso sem nenhuma consequência. Por mais que Lula e Haddad reclamem, o Banco Central está lá tranquilo, fazendo o trabalho dele. Esses discursos não levaram a uma mudança de postura do BC. Ainda vai levar um tempo para que as elites brasileiras, sobre tudo de certos partidos políticos, entendam como é o Banco Central”, pontua.
Maílson da Nóbrega afirma que não há nenhuma experiência no mundo em que a intervenção do governo na taxa de juros tenha gerado efeitos positivos. Ele analisa que governantes podem adotar a medida para ganhar a popularidade, mas acabar prejudicando a economia no processo. O economista reforça que o Banco Central é um órgão de Estado e não de governo. “Ele não pode, nem deve, obedecer políticos. O Banco Central serve para assegurar a estabilidade da moeda e do mercado financeiro”, define. O ex-ministro ainda pontua que o governo Lula errou em alguns momentos, inclusive com o programa de veículos mais baratos. “Não há nenhuma justificativa de natureza econômica, menos ainda social, para fazer um programa de subsídio para a compra de automóvel. Isso beneficiou empresas de aluguel de automóveis. Quando é que um pobre pode comprar um automóvel de R$ 120 mil? Isso é uma medida que entrou em contradição com a reforma tributária. Não deveria ter acontecido, mas aconteceu, tudo bem. Agora estão tentando fazer isso com geladeira. A experiência mostra que, embora até possa se justificar para animar a economia, a forma de fazer isso não gerando isenção de imposto. A forma de fazer isso é usando o orçamento para gerar um subsídio transparente. Ainda não vejo nenhuma coisa heroica para fazer a economia crescer”, concluiu.